sexta-feira, 12 de outubro de 2012

VÉÏÖ CHÏÑć


POEMA: FASCÍNIO

Há feitiço na tua expressão
Que ora diz sim, outra não
Mas que sabes, incita-me
Em insofismável fascínio

Há feitiço em cada linha do teu rosto
E neste sorriso que rompendo o dia
Desafia tolos e suas falsas crendices
De não verem na vida algo de magia

Há em você um feitiço, o maior de todos:
Um olhar de quem oculta pedras preciosas
Que se encantam nos atalhos das mil rotas
Seduzindo-me como os olhos de uma naja

Copiiraiti12Jun2012
Véio China ©

CONTO: 24 HORAS

Eu estava com sérios problemas de sono. Aliás, acredito que não fosse propriamente o sono e sim a virtualidade. Notívago crônico a fase não era das melhores e eu só conseguia dormir quando batesse cinco ou seis da manhã. Tão problemático quanto o sono era a confusão mental que progredia lentamente já que algumas vezes o que supus ser dia, de fato era noite. E por mais que tentasse, a incoerência e os pensamentos não me deixavam distinguir se me tornava virtual pela falta do sono ou se notívago pelo excesso de virtualidade. Talvez eu fizesse parte duma legião de condes dráculas espalhada pelo planeta, vampiros virtuais que tinham na luz do sol a origem dos seus grandes males. Porém as rotas em meus subterrâneos começaram mudar a partir duma certa madrugada de muita conturbação. Recordo que passava pouco das 02:00 da manhã e eu conversava com alguém uma prosa que seria pródiga em atritos.

-Pois bem Sr. Bates, qual é o problema agora? – Perguntou-me ele no MSN.

Ah sim! Aquele era o Dr. Dil, um psicanalista virtual que me fora indicado por uma amiga e o qual eu pagava através de depósitos em sua conta bancária. Claro, não havia riscos, não para ele, pois seus depósitos eram feitos com antecedência para que pudesse usufruir o meu tempo.

-Bem... Dr. Dil, sinto que as coisas não podem continuar do jeito que estão – Evidente, eu percebia o seu tom contrariado.

-Sr. Bates como já disse antes, acho que no pé que as coisas estão o melhor seria o senhor se consultar com um neurologista – Respondeu-me com certo enfado.

Talvez o Dr. Dil estivesse com a razão. Recordo-me inclusive uma das últimas consultas onde ele tentou se desvencilhar de mim aviando-me uma receita do Diazepan. – "Eu tenho um colega que pode emitir o receituário em seu nome. Tenho até o motoboy pra levar” – Concluiu. Claro, recusei, pois me sentia presa fácil dessas drogas já que em outras épocas me viciara em ansiolíticos poderosos. Portanto não o momento de sentir-me refém e nem voltar a acordar com o gosto da morte na boca.

-Doutor, tem certeza que essa falta de sono não se motiva por algo acontecido quando criança? – Insisti como se não tivesse percebido que ele pretendia cair fora -

-Não, não é não Sr. Bates. A sua infância nada tem a ver com os fatos! - Definiu

Talvez o Dr. Dil não tivesse apreciado o fato de indicar-lhe algum caminho. E o que também me era estranha a recusa, afinal, geralmente os analistas imputam à infância o período dos distúrbios da personalidade. Porém, comigo jamais se permitira usar do artifício. Talvez o receio fosse que me tornasse mais chato do que me julgava.

E assim continuávamos a lengalenga naquela noite de calor intenso onde eu intercalava o uso das mãos para amassar uma dessas pequenas bolas de borracha que fortalecem a musculatura. E eu a pressionava algumas vezes e depois a atirava para o alto e tornava pegá-la sem deixar que tocasse ao chão. O Dr. Dil olhava meus movimentos e agia tal qual um espectador de uma partida de tênis, e sua cabeça seguia a trajetória da bolinha, ora subindo, ora descendo. Na última vez que a atirei ao alto ele se irritou:

- Sr. Bates, desculpe, mas não é para isso que me paga e muito menos são esses os serviços a que me presto! - Olhei-o surpreso através da webcam. Talvez a repetição dos movimentos o incomodasse.

-Ta bom doutor, não mais se incomode com bola! – Exclamei compreensivo.

Ele olhou-me impaciente. Eu via cada músculo do seu rosto sendo contraído ante a perfeita resolução duma webcam que me custara o olho da cara.

-Bem... Na verdade Sr. Bates, isso nada tem a ver com a sua maldita bolinha - Devolveu-me. Depois continuou - É constrangedor tocar no assunto, mas... o senhor não me deixa alternativa.
-Como assim? Seja mais específico, doutor! – Eu não o compreendia.

-Ora, ora Sr. Bates! Assim... Assim... assim como o senhor está, com o pênis ereto sob a cueca. E o senhor há de convir, é uma situação assaz desagradável! - Reclamou equilibrando os óculos no nariz curvo.

Olhei para mim e confirmei que algo se avolumara debaixo da minha cueca samba-canção. Algo que se mantinha ereto como se fosse um dos braços de Adolf na saudação nazista.

-Ah, nem ligue pra ele, doutor! É apenas vontade de mijar! - Justifiquei procurando não dar grande importância ao fato.

-Mijar? Que palavra horrível, Sr. Bates! O senhor não me deixa outro caminho... O senhor é um homem profundamente desagradável! Passar bem! – Fulminou-me com um tom grave e depois curvou o corpo com intuito de pegar os óculos que não se equilibrou no nariz curvo e desabou ao chão.

Refeito, olhou-me com aquela sua feição de almofadinha e disse que estaria depositando em minha conta o valor daquela última consulta. Nada mais disse. Repentinamente o seu nome some dos meus contatos online. Era melhor assim. Só um cego não veria que era passada a hora de se desfazer do Dr. Dil Page Brin e das suas insanas sessões de análise por vídeo conferência. Tudo era tão nítido. Andávamos a passos de tartaruga e o pouco caminho percorrido trouxe resultados desanimadores já que persistia insone. Em todo o caso eu tinha que reconhecer nele o faro comercial ao estabelecer um consultório com atendimento virtual. E outra. A culpa fora toda minha; Comodista e acreditando na indicação da amiga eu me livrara dos malditos divãs freudianos, mantendo-me distante das filas dos elevadores e dos abarrotados estacionamentos da caótica cidade de São Paulo.

Olho novamente para o relógio do Windows e agora ele aponta para quase 02:30 da manhã.
Repentinamente - Plimmmm – O sinal sonoro dava conta que alguém estava online. Olho pro boneco verde e a pessoa me é visceralmente familiar. Penso por alguns instantes e recoloco os fones de ouvido e abro outra vez a webcam.
-Filho, boa noite! - Ela se antecipa me cumprimentando com voz trêmula.

-Boa noite mamãe! O que foi?

-Ah filho... a mamãe ta preocupada com você. Olhe pras tuas olheiras. Aposto que não anda comendo direitinho, não é? - A sua fisionomia era crítica. Bem, nem sabia a finalidade das considerações; mamãe pesava 43 quilos e também tinha olheiras profundas. Olheiras e amor.

-Ah mãe, me alimento sim! – Eu me defendo.

Eu olhava pra mamãe e pensava no ridículo de estarmos naquele papo e numa hora daquelas. Jesus Cristo! Talvez a minha insônia fosse herança de minha árvore própria genealógica. – Concluí ao observar seus olhinhos notívagos. E ela, por sua vez jamais se aperceberia do constrangimento que causava ainda mais para um sujeito da minha idade. Certamente não passava por sua cabeça que me tratava como um garotinho que se leva à escola municipal com a lancheira à tiracolo.

-Ah filho, você ta muito magrinho! Vê no espelho as tuas profundas olheiras? - Ela suspira preocupada. Ah meu Pai! Íamos começar tudo de novo.

-Mamãe, Eu já te falei. To muito bem! E a senhora sabe que quando durmo nem Boeing me acorda! Nem se entrasse pela janela e deitasse do meu lado na cama!

-Ah, isso é! - Ela rechaça - Também roncando do jeito que ronca jamais ouviria a turbina do tal avião! – Ela solta um risinho de galhofa.

- Então ta mamãe! Um beijão e fica com Deus! – Despeço-me imprevistamente. E antes que viesse com novas recomendações, bloqueei.

Pronto, o assunto com mamãe estava resolvido. Porém o que não estava resolvido era a minha fome. Ela precisava ter me lembrado? Espreguicei-me e rumei para a cozinha onde na geladeira encontrei apenas os restos dum frango assado de três dias - Blargh! Olhei pras peles tostadas, pras coxas esbranquiçadas e senti náuseas. Sem nada que pudesse matar a fome preparo a terceira caipiroska e ao voltar para o computador percebo que a Cantina e Pizzaria Cosa Nostra está online. Desbloqueio e escrevo em letras garrafais:

-XANG LEE, POR FAVOR, AINDA ESTÃO ATENDENDO PEDIDOS? – Óbvio, Xang Lee era portador dum avantajado grau de miopia.
Interessante é lembrar-se de como aquele chinês herdou a Cosa Nostra e o tino comercial de sua família. O local onde hoje funciona a cantina foi uma pastelaria. Todavia o passar do tempo e a pouca rentabilidade fez Xang esquecer os engordurados pastéis e esfihas e optar por outro ramo gastronômico. Soube do fato através da conversa que tivéramos numa das vezes que estive na pizzaria; Eu me dizia surpreso por ver um chinês tornar-se dono de cantina, negócio típico dos italianos e ele, por sua vez argumentou que os italianos haviam invadido muito dos negócios chineses, sobretudo as lavanderias. Sim, e ele estava certo, principalmente diante dum mundo globalizado onde o que conta é a eficiência e não mais predominâncias étnicas ou suas tradições.

Foi o que recordei quando Xang respondeu pelo MSN que ainda estavam em funcionamento. Mediante a confirmação e não querendo confiar apenas nas letras abro a webcam e peço ao microfone:

-Xang, pode me mandar ½ aliche, ½ mussarela? O meu endereço consta no seu cadastro. - Ele sorri, e depois prestativo responde:

-Xim sinhôro Bates! Vinte minutos a pizza tai em xua casa! - Xang confirma vestido numa túnica de amarelo-canário onde um enorme bordado no bolso superior escancara uma inexplicável Torre Eiffel.
Então finaliza:

– O pleço é "qualenta leais e tlinta centavos" E vai junto biscoitinho da sorte e Gualaná Dolly, glátis!

Eu sorri da forma que ele falou. Xang era um cara esperto e sabia como conquistar a sua clientela, apesar do guaraná ser o Dolly. Com 45 minutos de atraso eu recebia a pizza. O rapaz me entregou a caixa quadrada e o refrigerante. Dei-lhe o dinheiro e alguma gorjeta e ele se foi. Ao abrir, a surpresa: Era de camarão. Camarões enormes, bem assados, apetitosos, apesar de a pizza parecer um tanto morna. Bem... Eu não tinha nada a ver com a incompetência dos chineses; Nesta noite alguém daria a falta dos maravilhosos camarões. Degusto quatro dos oito pedaços e me sinto fartado.

Aí veio a preguiça. O que fazer? Um filme na TV?
Não! Filme de TV é um saco, geralmente reprise. Além disso, o que aborrece são aqueles comerciais enfadonhos que interrompem a trama a cada 15 ou 20 minutos. Passo os olhos pelos DVDs na prateleira e eles também não me atraem; assisti cada um daqueles filmes uma dezena de vezes.
Vou à janela, retiro um cigarro do maço e fumo. No prédio de frente, à coisa de 40 metros um casal se beija próximo à janela. Eles se bolinavam e as mãos dele pareciam tão rápidas quanto os desejos. Não decorre um minuto e a mulher ao tentar fugir das carícias do homem gira o corpo e dá pela minha presença. Sou um indesejável, intruso, portanto ela cerra a cortina e eu me amaldiçôo por ter deixado as minhas luzes acesas. Deus, que ócio! Minha vida era nada mais que tédio.
Bem... Eu poderia jogar xadrez, afinal, o Windows Sete tinha um ótimo jogo; Não, não! Vivia sendo surrado pelo maldito programa– Concluí enfadado.
Sem saber o que fazer com a insônia que me aflora os nervos volto para o computador, sento-me e revejo a lista de contatos do MSN. Provavelmente mais de 90% daqueles 100 nomes fosse de mulheres. Mulheres com as quais tivera algum contato pelas minhas andanças virtuais e, diga-se a verdade, gente que nem mais me recordava. Felizmente para mim e para elas e a fim de evitar constrangimentos do tipo – “Oi. conhecemo-nos da onde?” eu sempre as mantive bloqueadas.
Antes eram liberados, portanto paguei alguns micos pela decisão. Lembro-me que numa ocasião e que certo quem era a pessoa da foto interagi com Marta, uma professora de cursinho que conheci numa comunidade literária de Orkut. Recordo-me inclusive do absurdo do diálogo:
-Oi Marta, tudo bem? Como estão marido e filhos? O menorzinho melhorou da caxumba?

-Cê ta maluco, cara! Meu nome é Eunice, sou lésbica e odeio crianças! - Ela escreveu depois de um tempo. Não passou mais de um minuto e Eunice bateu o MSN em minha cara

Ria daquelas lembranças quando novamente segui os nomes dos contatos; Bingo! Estava lá, online! – CASA DE MASSAGEM LEONORA – Lembrava-me bem de Leonora. Talvez uns 45 ou 46 anos, conservada, coxas grossas e seios volumosos. Eu estivera em seu respeitável estabelecimento por cinco ou seis ocasiões. Era uma casa enorme e de muitos quartos com banheiras de hidromassagem. Aliás, a bem da verdade é bom que se diga; esse segmento que pretende abocanhar executivos é uma grande farsa. Mentira porque as meninas fazem barbaridades com nossos corpos, exceto massagens.
Rememoro a terceira vez que ali estive e Leonora me chamou discretamente e me entregou seu cartãozinho. Olhei; além do seu número de celular constava também o seu MSN.

-Assim é mais fácil, rápido, prático! Esquema Delivery, sacou? - Ela disse à queima roupa a bordo dum sorriso canalha impregnado nos lábios carmins.

-Claro, claro, saquei! – Confirmei ao piscar-lhe o olho.

Sem perder-me das lembranças continuo com os olhos fixos na lista quando me pergunto; Cara, você está realmente a fim de alguma mulher? Eu não sabia. Não era a falta de mulher que me matava, era o tédio. Cara ou coroa? Mesmo sem ver o lado que a moeda caiu eu decidi e desbloqueei Leonora, e mais outra vez abro a webcam:

-Oi meu querido! – Ela exclama. Evidente, minha fisionomia e a grana deixada em seu estabelecimento da última vez talvez selassem em meu rosto a expressão: VIP

-Leonora, boa noite! Como estamos de garotas? – Pergunto num sorriso forçado.

Leonora está vestida numa negra blusa de tule que deixava à mostra o formato dos apetitosos seios. Eles parecem estar em plena forma e se adornam num sutiã branco talvez, menor dois números ao que deveria ser. Olhando atentamente para o seu par de seios tive a impressão que ansiava mais que liberdade condicional, louco pra se ver livre de vez do pano rendado que o entrincheirava No rosto carregava uma maquiagem pesada, em azul, lilás e verde. Era como se estivesse pronta para um baile de máscaras.

-Xi, meu caro Bates! Numa hora dessas não sobra grande coisa! Pra te falar a verdade está aqui unicamente a Sheylinha. Lembra dela?

-Sheylinha. Sheylinha. Ah sim, lembrei... Aquela magrela de bumbum atrofiado – Disse num tom de decepção.

-Sim, ela mesma!

-Bem, se não há outro jeito... quanto ta a morte? – Perguntei

-Hum... pra você, fim de noite... faço 150 pratas. Ta bom assim?

-Cem pilas e nenhum centavo a mais! – Propus. Certamente Sheylinha não valia nem a metade daquilo.

-Fechado! – Ela responde num quase “ufa! nem tudo está perdido”

Menos de ½ hora e o porteiro me chama ao interfone.

-Seu Bates, tem aqui uma... uma - Ele está constrangido. Realmente sua simplicidade nordestina não sabia mexer com questões tão complexas.

-Já sei quem é Adrael! Mande-a subir, por favor.
Sheylinha toca a campainha e eu abro a porta. Ela fede à bebida barata. Vinte e poucos anos, a calça jeans agarradíssima faz suas pernas magérrimas darem a impressão que se livrarão do pano e acertarão bolas de bilhar. Ela nem pede licença e vai entrando e se desfazendo das roupas de bom uso. Primeiro se despe duma camiseta branca que traz no meio do peito um letreiro descascado na cor prata onde ainda se lê: - Eu sou, mas quem não é? – Em seguida retira as calças ficando praticamente seminua. Definitivamente Sheylinha não me causava o menor tesão:

-Ô seu Bates, bora andar logo por que daqui a pouco eu tenho que pegar um buzão no Parque Don Pedro. É o negreiro - Ela comunica. Aquilo me aborreceu, pois não há nada pior que prostituta apressada, ainda mais para um último ônibus.

-Calma filha! Não quero trepar, não. Vamos apenas conversar! –

-O senhor não vai brincar de pif-paf comigo? – Ela exclama e gargalha numa feição à-toa.

-Isso mesmo! Sem pif-paf hoje, Sheylinha! -

Ela se aquieta e conversamos por um tempo e eu soube de todas as desgraças que cercam a vida das prostitutas. Uma história triste como tantas outras de garotas vindas dos confins do país para um grande centro à procura de algum lugar ao sol. Porém o bom senso sempre indicou martermo-nos atentos e céticos com as histórias de meretrízes. Antes de ir ainda se oferece.

-Seu Bates, tem certeza que não quer pelo menos uma bronha ou um boquete?

-Não, Sheylinha. Hoje não quero nada! – Garanto-lhe com um piscar.

Com a resposta ela se veste à minha frente e eu sinto comiseração pela criatura. Há nela um olhar de criança inocente, de quem está doída, machucada. Há nela muitas cicatrizes e os sinais da dura existência e daquilo que se convenciona alcunhar de "mundo cão".
São 05:35 da manhã quando Sheyla deixa o apartamento com o dinheiro dentro do bojo direito do sutiã. Ela me acena e dá o último sorriso cretino. Assim que se foi tudo se tornou escuro, quase negro.
Volto ao computador e há apenas três pessoas que se mantém acordadas nessa hora. Pessoas que também não me recordava. Desligo o aparelho e vejo a tela do monitor definhar comigo, morrer comigo, e agora não há mais vidas ali, mas apenas um monitor de cristal líquido que finalmente se livrou dos malditos anúncios multicores. Ponho a mão nele e ele também está quente, portanto merece descanso. Lembro também que saindo da sala fui ao banheiro e dei uma bela mijada. Depois escovei os dentes, lavei o rosto e a feição que vi refletida no espelho me assusta. Eu parecia estar com mais de 50 e não os 41 que de fato tinha. Dirigi-me ao quarto e vesti o meu pijama flanelado. Olho para ele e rio de mim; E eu e minhas lembranças duma certa vez, onde ébrio e numa roda de amigos confessei que usava um daqueles. Foi o suficiente para me tornar o alvo das suas gozações– “Isso é coisa de boiola ou de gay!” - Eles gritavam e riam e anunciavam o meu pijama para os outros clientes que bebiam ou comiam petiscos. E eu apenas ali, sem graça, rubro, até que a vergonha aliada á ira esbofeteou-me no rosto e eu mandei todo mundo se foder, inclusive o garçom; Que fosse à merda aquela cambada de recalcados. Eu jamais me separaria dos meus pijamas de flanela, gostassem ou não. Ainda com a feição contrariada ajoelhei à cabeceira da cama.

-Pai, faça que meu dia hoje seja diferente ao de ontem! - Pela primeira vez em anos eu pedia algo para Deus. E pedi com devoção.

Em seguida rezei três padres nossos e fiz o sinal da cruz. Algo necessitava ser mudado dentro de mim, por isso pedi com fé. Terminado, enfiei-me debaixo do cobertor.
Pela janela a claridade ainda amena fazia ter certeza que um novo dia estava à caminho. Sim! Sempre haverá um novo dia que poderá me reservar sol, chuva, gente que ama, gente odeia, coisas boas e coisas ruins. E nesse mesmo e renovável dia o mundo continuará girando sobre o seu próprio eixo e nós não o sentiremos, aliás, jamais o sentimos. O planeta terra será notícia, sempre. Notícias que espocarão em frações de segundos na rede, nas rádios e nas TVs. Notícias dando conta de tragédias e atrocidade dum mundo que agoniza. Notícias que eu só terei ciência quando acordar lá pelo meio da tarde, mal- humorado, boca amarga, bêbado de sono e de mais uma ordinária madrugada.
Algo andara muito mal dentro de mim, e pela primeira vez em anos eu quis mudar as rotas do meu subterrâneo, eu quis um amor que não naufragasse. Eu precisava dessa voz aveludada, desse sorriso generoso. Necessitava de alguém que me abraçasse pela cintura e que desligando a TV depois da sessão das dez me convidasse para uma grande noite de amor. Esse mesmo amor sempre me foi estupidamente complexo e incompreensível tal qual a virtualidade que me tornara.
Fiquei pensando naquilo por alguns bons minutos e quando outra vez olhei para a janela percebi que cortina não mais atenuava a claridade da manhã. E aquilo me impressionou; como a luminosidade em fração de minutos pode se apoderar de tudo? – Me perguntei - Talvez a claridade me fosse a esperança, a permissão para que algo se acendesse dentro de mim.
Remexi-me na cama por mais alguns instantes até me sentir aquecido pela flanela e pelo cobertor

-Que se fodam, seus babacas! - Praguejei-lhes uma última vez. O subterrâneo tinha que dormir.

Copirraiti 23Ago2011
Véio China©

ATRÁS DA COXIA O POVO QUER SABER


Sobre Arte
Véio China: A arte é confusa.
                Há arte da culinária, arte em elaborar um prato, vários chefs já foram
               agraciados com diversos títulos, mas não há arte no deguste das suas obras.
              Conceitos sobre artes por vezes são estranhos e curiosos.
             Contesto toda arte que se pretenda elitista.
            Há arte num Odair José como há também na Sinfônica de Berlim.
           Arte é aquilo que toca a pessoa de alguma forma.
          Há gostos, predileções, e um vasto e variado público
         para consumir tudo aquilo que se imagina e se têm por arte.

Caracterização da arte como um dom
Véio China: Às vezes penso;
                O poeta é artista, o contista também, o escritor é  tido como
               artista e a literatura a sua ferramenta mestra.
              Creio ser pomposo demais rotular como sendo arte 
             aquilo que possa ser apenas aptidão.
            Fico aqui imaginando os cientistas e os físicos  
           e suas impressionantes aptidões e descobertas.
          Não seriam eles igualmente artistas?
        Talvez o maior artista da humanidade 
       seja aquele que descobrir a real cura para o câncer.

A pessoa por detrás do artista
Véio China: Um chato pacífico e gozador.
                Um sujeito que escreve, não porque se julgue artista, mas porque gosta.
               Ah sim! Sem pretensões; estou velho para isso!

Artista(s) como referência 
Véio China: Muitos escritores. 
                Porém há três que adoro; John Fante, Charles Bukowski, Ferdinand Celine.

Rotina de produção
Véio China: Nenhuma.
                Se penso em escrever, escrevo.
               Geralmente não há idéias, roteiros, estórias, nada, absolutamente nada.
              Sento ao PC e parto da primeira palavra ( o que é óbvio)
             e as seguintes vão se encaixando.

Participação em exposição/encontro literário/show/divulgação
Véio China: Divulgo o que escrevo apenas para os amigos ( e olhe lá). 
                Divulgação oficial? Nenhuma. 
               Não participo de concursos literários e nunca procurei (ou fui procurado) por 
              editoras, nem mesmo os jornais de bairros. 
             Encontros literários? Ah sim! Vez ou outra. 
            Adoro encher a cara e falar abobrinhas. 
           Mas, estamos nos tornando velhos (eu e minha turma) 
          Mas, não ainda á ponto de preferir o mingau de aveia às cervejas. Hehehe.

Quanto a sua trajetória de artista
(críticas ferrenhas contrária ao que produz)
Véio China: Minha trajetória resume-se ao Blog do Véio China.
                Sobre as críticas? Xi!
               Elas podem ser terríveis numa das comunidades literárias que freqüento
              (Bar do Escritor–Orkut) o pessoal de lá  é feroz e ferrenho.
             Aceitar críticas? Aceito numa boa,
            salvo aquela que carrega o objetivo de 
           denegrir, humilhar, ferir, não a obra, mas o autor.

Participação em algum projeto social que envolve os seus dons artísticos
Véio China: Nenhum! 
                Aceito doações! ( brincadeirinha...ou não.... Hehehe)

Se pudesse ser alguém [algum artista], aliado com sua personalidade e seu próprio tempo, quem seria?
Véio China: Hum...nenhum!
                No momento que pretender ser alguém diferente de mim 
               é porque não estarei feliz comigo.
              Nutro sim admirações, porém aquém do desejo da possessão.


Mensagem de Véio China,
às pessoas que praticam arte profissional ou amadoramente:
"Pau na máquina! 
Antes de desistir de você, tem que acreditar.
E por favor, se escreve alguma coisa ou acha que escreva, 
please, não me tome por exemplo. hehehe"

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Links com a publicação dos trabalhos de Véio China
Sites:




2 comentários:

V.Cruz disse...

Um irreverente sonhador, ops!!! Escritor, poeta, fazedor de arte, engendrador de trocadilhos...ufa??? Ahhh, ele se diz "velhinho" e se esquece que velho é o mundo, ela está mesmo é no máximo...USADO na garantia ou não, mas com jeito que ainda não perdeu a validade!haha
Adorei!
Bjão aos dois
V.

Unknown disse...

hehehehehehe....
eu digo um *velinhos sábio".
Obrigada minha querida Valéria.
Bjs